sexta-feira, 16 de abril de 2010

COMO EU ME CONHECIA

Se há um lugar que eu pensava conhecer é a Avenida dos Expedicionários. Essa avenida sempre foi o elo entre minha casa e o centro da cidade. Sempre foi por ela que me dirigi ao colégio, às lojas, à igreja. Era ela que me levava às noites de sábado também. Nela, costumava a transitar cumprimentando os moradores de suas casas. Conhecia todos. E conhecia também os que nela não moravam, mas a utilizavam como eu. Era raro não ter alguém para falar um alô, ou para acompanhar-me em meu trajeto. Lembro-me até de uma tarde em que um colega fez eu me sentar em no meio-fio para lhe ensinar uma música no violão.

Na Avenida dos Expedicionários fica o calçadão de Rolândia. Conhecia-o bem também. Ao contrário do de Londrina e do de Cambé, o de Rolândia é cortado por uma rua e tem uma fonte. Não é bem um calçadão. Nele há apenas algumas lojas, uma sorveteria, uma escola de inglês e a única banca de jornal da cidade. Passam por ele inúmeras pessoas: das típicas de Rolândia, às típicas de qualquer cidade. Eu por lá passava muito também, uma vez que ele se ele localizava na Avenida em que eu estava todo dia. Quase todo dia.

E, tanto na Avenida quando no calçadão, tudo sempre me era familiar, igual aos programas de domingo na TV. Essa sensação de familiaridade, na minha cabeça, jamais me deixaria. Mas me deixou. Ontem, subi a Expedicionários para ir até o centro cortar meu cabelo. Depois que o babeiro em que eu costumava ir morreu, passei a cortar o cabelo no centro da cidade e ir a pé. Era manhazinha e não me surpreendi em não encontrar nenhum conhecido. Deviam estar os que podiam dormir, dormindo, e os que não podiam, trabalhando. Surpreendi-me, porém, ao chegar ao calçadão. Na loja de roupas, notei um café, que nunca havia notado. Na sorveteria, nada notei. Mas estava lá ainda, porém, no lugar de outra loja de roupas. E as lojas roupas? Lá não mais estavam. Pelo menos a escola de inglês ainda estava no lugar e a fonte ainda fonteava como sempre. Mas não era como sempre. O calçadão de Rolândia mudara pouco, mas mudara, e eu não imaginava que podia acontecer isso. A sensação de ver pequenas coisas diferentes num lugar em que, para mim, nada nunca estaria diferente me fez perceber que o fluxo das mudanças atinge também a mim. E notei que eu nunca dera aula, como entendo hoje que sempre fiz, que eu nunca escrevera como entendo hoje que sempre fiz, que eu nunca estudara Linguística, como entendo hoje que sempre fiz. Que isso não é tão familiar, quanto parece. O que eu sempre fazia era tocar violão, conversar com amigos e escrever músicas.

Cortei o cabelo. No caminho de volta, reparei mais uma vez no novo café e no lugar novo da velha sorveteria. E na Expedicionários, na volta, mais uma vez não encontrei ninguém. Senti-me estranho. Já em casa, ao olhar no espelho, com o cabelo podado, notei-me sem o velho semblante familiar. Senti-me estranho. Contudo sabia que voltaria ao normal. O que não voltaria, entretanto, a Avenida dos Expedicionários e seu calçadão como eu a conheci bem e como eu me conhecia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário